Rest in Peace
Vietname Hero!
Embora já
tenha passado mais de uma semana do seu desaparecimento, confesso que não
resisto em recordar, homenagear e deixar o meu conhecimento ou “testemunho” de
quem foi John McCain, porque sendo eu um apaixonado e fascinado pelos EUA e
pela sua história política e sistema naturalmente segui este senador dos mais
adorados pelos americanos inclusive pelos seus adversários. Mas o homem que
recentemente só deu mais nas vistas por se ter oposto a Donald Trump não só
pelo seu estilo, pelo que disse dele(John McCain) e por ter votado contra o fim
do sistema de saúde mais conhecido por “Obamacare”, McCain era alguém muito
experiente, credível, respeitável e com uma longa história de vida.
Quem foi?
John Sidney
McCain nasceu a 29 de Agosto de 1936 em território do Panamá, mas foi pelo estado
norte-americano do Arizona que fez toda a sua carreira política enquanto
senador e onde desempenhou diversos cargos como, Presidente do Comitê das
Forças Armadas, do Comitê dos Assuntos Indígenas e do Comércio.
Antes de
fazer carreira política, John McCain fez carreira militar tendo ingressado na
Academia Naval dos EUA em 1958, fez especialização em aviação e participou na
Guerra do Vietname. Durante esta guerra foi quase morto durante um incêndio provocado
no USS Forrestal quando ia a bordo, mais tarde em 1967, quando ia numa
missão para bombardear Hanói e o seu avião foi derrubado, não lhe restando
outra hipótese se não mesmo ejetar-se e ficou gravemente ferido na queda. Foi
aí nesse episódio que foi capturado pelos norte-vietnamitas e foi até 1973(quando
foi repatriado) prisioneiro de guerra no Vietname onde foi torturado e passou
por vários tipos de maus tratos por parte dos guardas vietnamitas. Maus tratos
esses que lhe deixaram marcas e ferimentos, alguns que o acompanharam até ao
final da vida.
Terminou a
carreira militar em 1981 e foi no inicio do ano seguinte que John McCain
ingressou na política, filiado ao Partido Republicano foi eleito para a Câmara
dos Representantes pelo estado do Arizona onde foi eleito por dois mandatos
seguidos, mais tarde em 1987 foi eleito para o Senado onde foi eleito por cinco
vezes seguidas e serviu até ao ano da morte, 2018. Concorreu duas vezes à
Presidência dos EUA, em 2000 e 2008. Em 2000, concorreu às eleições primárias
do Partido Republicano tendo como principal adversário nas mesmas, o então
Governador do Texas, George W. Bush, mas foi este último que levou a melhor nas
primárias por ter vencido a esmagadora maioria dos estados(44) em detrimento
dos poucos(7) obtidos por McCain. Já em 2008, McCain venceu as primárias do
partido tendo vencido aqui a maioria(37) dos estados e conseguindo a nomeação
republicana para o confronto contra o senador democrata… Barack Obama.
Num ano
marcado pela crise internacional iniciada nos EUA, com a falência do banco
Lehman Brothers e com o empréstimo de mais de 700 biliões de dólares aprovado
pelo Congresso e depois confirmado e feito pelo Presidente Bush aos bancos para
não falirem, associado também a um mandato de mudança abrupta marcado pelo 11
de Setembro e pela guerras com o Iraque e Afeganistão, a sociedade na sua
maioria desejava a mudança prometida e demonstrada por Barack Obama e John
McCain(associado à administração Bush por ser do mesmo partido e algumas ideias
semelhantes) não a representava aparentemente e por já não ser propriamente um
jovem. Numa eleição marcada pela crise e pelo desejo de mudança, John acabou
por perder a eleição contra o afro-americano tendo ficado cerca de 10 milhões
de votos atrás, também provocada pela infeliz escolha do senador republicano de
Sarah Palin para Vice-Presidente, que provocou alguns episódios muito infelizes.
Até ao final da vida, John McCain desempenhou apenas o seu mandato como
senador.
Posições e episódios marcantes
Sendo um republicano,
John McCain era naturalmente um conservador, mas era apontado inclusive pelos
companheiros de partido aquilo a que os franceses chamam de “l´enfant
terrible”, mas eu sinceramente considerava-o um homem moderado e ponderado,
arrastando essa postura para o seu lado político. Era um homem livre
independentemente das ordens de cima. Sendo pró-vida e contra o aborto, era
favorável à legalização do mesmo para casos onde era legitimo o direito da
mulher, sendo cristão também opunha-se firmemente contra o casamento
homossexual, mas considerava que o governo federal deveria reconhecer os LGBT e
conceder-lhes direitos entre os quais, as uniões civis registadas e sendo
obviamente a favor das penas pesadas para os criminosos, opunha-se firmemente
ao uso da tortura(que ele mesmo sofreu).
O respeito
pelo adversário também marca a carreira politica de John McCain, em 2008 na
campanha para a presidência, os seus apoiantes(também incentivados por Sarah
Palin) chamavam Obama de “terrorista”, “árabe” e “falso americano”, mas McCain
fez questão de dizer que o adversário era “um homem decente e de família,
apenas tenho discordâncias dele no campo politico, é disso que se trata esta
campanha”. E recusou atacar Bush nas primárias pelo seu passado com o álcool e
que apenas criticava-o pelo projeto politico e nunca pessoalmente.
Tal como a
sensatez, depois de Donald Trump ter dito que John McCain “foi um herói de
guerra porque foi capturado, eu prefiro pessoas que não foram capturadas”, foi
votado no senado o fim do Obamacare(sistema de saúde criado por Obama que fez
com que mais americanos tivessem seguro de saúde, o mais parecido com um
sistema publico de saúde), vendo os pontos positivos do sistema ao invés dos
negativos, John McCain(contra o seu próprio partido) decide votar contra o fim
do Obamacare, dando a entender claramente que se o mesmo não é perfeito e tem
muitos defeitos, pode ser aperfeiçoado em vez de destituído.
No fundo,
tanto o respeito como a sensatez, passando pela liberdade e moderação, fizeram
parte da vida e maneira de ser deste senador e herói de guerra que vai deixar
saudades à vida publica e politica americana.
Rest in peace and God bless you John !
Jorge Afonso 4/9/2018
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