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CDS primeiro, uma realidade ou utopia?


CDS primeiro, uma realidade ou utopia?

Ocorreu no fim de semana passado o 27ºCongresso do CDS/PP, um histórico da nossa democracia que já foi chamado e intitulado de “partido dos ricos” a “partido dos fachos” passando pelo mítico “partido do táxi”, alcunha usada na legislatura 1987-1991 em que os centristas tinham apenas 4 deputados.

Um Congresso marcado não só pelo anúncio de recandidatura de Nuno Melo ao Parlamento Europeu mas sobretudo pela continuação e consolidação da atual liderança de Assunção Cristas que mesmo à frente de Rui Rio em Lamego afirmou ser a líder da oposição e já se ver como futura Primeira-Ministra. Esta é a questão, o CDS ser primeiro ou simplesmente à frente do PSD é uma realidade ou utopia?

Devo dizer que duvido muito, porque historicamente há uma parecença entre o CDS e o Bloco de Esquerda que é: sempre que numa eleição sobem de votação nunca se percebe se o partido cresceu ou simplesmente “engordou” ou “inchou” porque quando ambos sobem a votação é por crise de popularidade do partido que está no poder ou saiu dele.

Temos o exemplo de 2009 para não ir mais longe, em que o PS perdeu cerca de 500 mil votos diretamente para o CDS e para o Bloco, em 2011 percebeu-se que o Bloco não tinha crescido mas sim “engordado” por ser apenas protesto e nada de soluções durante os dois anos anteriores e lá se foram mais de 200 mil votos para o PSD, PS e até PCP de forma repartida, enquanto que o CDS manteve a onda positiva subindo cerca de 70 mil votos tirados ao PS e ao PSD. 

Já em 2015 percebeu-se que o CDS também pelo desgaste de 4 anos de governação coligado com o PSD e embora nunca se vá saber qual perdeu mais, lá se foram 700 mil votos embora e surpreendentemente destes cerca de 300 mil foram para… o Bloco! 200 mil para o PS e os restantes para a abstenção.

Com estes dados que revelei percebe-se não só que o voto em Portugal é pouco ideológico ao contrário de países como Inglaterra, em que há décadas que existem famílias que votam Conservadores e outras Trabalhistas, na Alemanha em que há famílias que há gerações que votam CDU e outras SPD ou mesmo nos EUA onde há muitos milhares de famílias que desde sempre votam Republicanos e outras Democratas, como também se percebe que os pequenos partidos com representação parlamentar nunca crescem a sério ao ponto de ultrapassar PS e PSD, mas “incham” pelo descontentamento das hostes rosas e laranjas, porque não se consegue acreditar que alguém que seja um socialista moderado ou um social-democrata de raiz do nada passe a ser um militante de uma direita liberal economicamente com costumes conservadores e democratas-cristãos ou passe a ser um revolucionário que aderiu profundamente ao Marxismo económico e social.

No caminho para as próximas eleições legislativas, está tudo em aberto e surpresas podem acontecer a qualquer momento, basta um líder partidário dar um passo em falso ou uma declaração infeliz e tudo muda, aliás a nossa democracia está rica nesse aspeto.

Já tenho o meu voto definido embora não o revele, mas tenho a certeza de uma coisa em termos de estratégia para as próximas legislativas, o CDS não pode nem deve procurar e tentar ser uma cópia menor do PSD ou seja, abdicar dos seus próprios princípios e valores mais antigos para se preocupar com o pragmatismo do dia e com o poder pelo poder, sempre que o CDS entrou nessa lógica perdeu.

 Porque o CDS não se pode esquecer que grande parte da direita portuguesa vota tradicionalmente no PSD apenas para que o PS perca as eleições, mas acima disso tudo e que está mal hoje em dia é o facto de já não haver ideologia e só pragmatismo nos partidos, logo se o CDS quer marcar a diferença pela positiva devia arrepiar caminho porque se coisas boas ficaram no passado porque não voltarem? 

Não parece ser isso que quer Assunção Cristas embora diga que o CDS é a principal casa da direita em Portugal e está agarrado à matriz democrata-cristã porque caso alguém ainda não saiba, a lista de Assunção Cristas perdeu no Congresso lugares no Conselho Nacional do partido para as fações mais contrárias à atual liderança e a contestam internamente.

 Aqui refiro-me nomeadamente à Juventude Popular e ao movimento “Tendência e Esperança em Movimento” liderado pelo militante Abel Matos Santos entre outros que há uns meses juntou numa Universidade em Lisboa os ex-líderes Adriano Moreira, Manuel Monteiro e Ribeiro e Castro, embora o primeiro tenha sido convidado para Senador, os dois restantes continuam afastados do partido e não são desejados para retorno pela atual liderança.

 Falando deste movimento, pretende revogar a atual lei do aborto, do casamento homossexual e adoção de crianças, tal como impedir a legalização da eutanásia e a realização de um referendo sobre esta questão, tudo o que o movimento acha que a atual liderança não pretende fazer, uma agenda mais conservadora para os costumes. 

Já a JP pretende de novo representação parlamentar a pedido do seu Presidente Francisco Rodrigues dos Santos e tal como eu referi atrás e assim gostaria, a JP quer restituir a ideologia ao partido em vez de um pragmatismo que o descaracteriza.

No geral, o partido parece ter mais apoio popular que tinha há dois anos, esteve bem nas autárquicas e pode sem dúvida ganhar deputados nas próximas eleições.

 Mas em contrapartida e de acordo com a informação que tenho, existe muita oposição interna e discordante de Assunção Cristas e sua direção. Vamos ver o que vai acontecer daqui para a frente. O CDS vai chegar mesmo ao topo ou isso é uma utopia?

Jorge Afonso  15/3/2018
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