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Years and Years: a previsão de um futuro assustador


Years and Years: a previsão de um futuro assustador

Years and Years é uma mini-série televisiva da BBC One, criada por Russel T. Davies que estreou em maio deste ano. À semelhança de Black Mirror e The Handmaid’s Tale, também ela nos apresenta uma visão sobre aquilo que a sociedade do futuro se pode vir a tornar. E tenho a dizer que é bastante assustador. 

Reino Unido, pós-Brexit, 2019. É este o período de tempo em que a história arranca. É-nos apresentada a família Lyons, de Manchester: o casal Stephen (Rory Kinnear) e Celeste (T’Nia Miller) e as suas filhas Bethany (Lydia West) e Ruby (Jade Alleyne); o irmão mais novo de Stephen, Daniel (Russel Tovey), casado com Ralph (Dino Fetscher). Há ainda as irmãs de Stephen e Daniel, Edith (Jessica Hynes), a ativista que tem passado muito tempo longe da família, e Rosie (Ruth Madeley), que sofre de espinha bífida e acaba de ser mãe. A avó Muril (Anne Reid) funciona como o centro de união de todos os membros da família, pois é em sua casa que se reúnem todos os meses. Uma particularidade desta série são os seus saltos temporais que nos demonstram o desenvolvimento da trama entre 2019 e 2034. É ao longo destes anos que vamos observando as alterações políticas, sociais e culturais que ocorrem no país e de que forma isso afeta o dia a dia dos Lyons e da população em geral.

Todos os dias a família assiste atentamente às notícias na televisão. Certo dia, deparam-se com Vivienne Rook (Emma Thompson), a empresária que dá que falar no meio da comunicação social e da opinião pública devido à sua maneira de ser “à Trump”. Digamos que tem uma postura muito pouco correta para quem está a concorrer ao cargo de primeira-ministra. A Vivienne pouco importa o conflito entre Israel e a Palestina. A sua maior preocupação é, sim, que os cidadãos parem de estacionar os carros no passeio para que a sua mãe consiga andar na rua sem qualquer dificuldade. Tem como mote da sua campanha a frase “don’t give a fuck” e só aí já podemos construir uma ideia acerca da sua personalidade como figura política e como pessoa.

A cada episódio somos bombardeados com temas um tanto ou quanto controversos e que realmente nos fazem refletir. No primeiro episódio vemos o colapso político de forma cada vez mais acentuada; o conceito de "transhumanismo", que consiste em transformar os humanos através de avançadas tecnologias para aumentar as suas capacidades intelectuais, físicas e psicológicas (basicamente a criação de uma vida online no nosso corpo); a utilização de robots como brinquedos sexuais; e ainda o tema dos refugiados.

Já no segundo episódio, vemos retratada a falência dos bancos no Reino Unido. No início, o espectador é alertado para o facto de que “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência”, um aviso um tanto ou quanto irónico, pois sabemos que não é bem assim. O momento em que este assunto é particularmente abordado faz-nos lembrar o episódio ocorrido na Argentina em 2001, quando o país mergulhou na maior crise da sua História. Na época, o governo impôs uma medida chamada de “El Corralito” com o objetivo de impedir a quebra do sistema financeiro, e a série faz referência a isso de uma forma que resulta muito bem.

Os episódios seguintes abordam tópicos que merecem ser debatidos. Demonstram o lado negro da sociedade em que vivemos, e a forma como a política de um país pode alterar completamente o rumo de um futuro que damos como garantido. Isto conduz à abordagem do tema dos refugiados e, consequentemente, da separação de milhares de famílias. São demonstradas as profundas falhas no sistema e a forma como a sociedade não dá a mínima importância ao tema; a forma como as divergências (políticas, sociais, económicas, etc) conseguem ser maiores do que os aspetos que deviam servir de mediador para chegar a uma solução para resolver o problema que afeta milhares e milhares de pessoas que procuram uma vida melhor em cada canto do mundo.  

Algo que Years and Years faz, ainda, questão de comparar com a realidade é o caso da situação governamental dos Estados Unidos e do Brasil. Trata o populismo exacerbado, o cúmulo da ignorância e o pouco entendimento que os políticos têm acerca do mundo e da sociedade que governam personificando Donald Trump e Jair Bolsonaro em Vivienne.

Years and Years é o contar de uma distopia que alerta para a possibilidade de existência de um mundo no qual os cidadãos comuns poderão vir a ser controlados a diversos níveis.




Joana Simões                                22/11/2019



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