Seca com Esperança
Numa altura em que o Sporting vive um
momento de crise, que engloba não só a sua identidade, como o seu rumo, quem
está a liderar, não parece fazer nada para mudar isso. Este problema advém de
16 anos sem ser campeão e da ganância de querer o melhor para o clube.
Bruno de Carvalho |
Não parece descansar. Desde a derrota
frente ao Atlético de Madrid na Liga Europa, parece que o clube de Alvalade
desabou, e em vez de quem está na frente ajudar a serenar os ânimos, só piora.
Uma das causas provém de 16 anos, já desde 2001/02, sem ser campeão. E um Bruno
de Carvalho que manipula tudo e todos no Sporting, para demonstrar que a culpa
não é dele, mas sim dos outros, levou a que a rutura batesse à porta e entrasse
à força dentro do Sporting.
Símbolo do Sporting Clube de Portugal |
Hoje, vemos um Sporting fragilizado. O que pode explicar
isso, não é certo, mas as causas mais prováveis para tal, são os campeonatos
“perdidos” que estiveram tão perto de se ganhar. Apenas umas falhas ditaram
essa perda.
Mas mais recentemente, a postura que o presidente de um
clube centenário teve, o do Sporting, clube que nasceu em maio de 1906, veio
dar uma visão não muito boa de um líder e de uma instituição que é a do
Sporting. Este tipo de postura já vem de alguns anos para cá, mas aqueceu o
ambiente do futebol português a partir do momento em que o Benfica poderia ser
pentacampeão.
Pode dizer-se que começou com uma ajuda do Porto. Mas a partir do
momento em que o Porto deixou este ambiente pesado, o Sporting tomou as rédeas
do pesadelo do futebol português, e fez mostrar aos seus adeptos, sócios e
cidadãos do mundo, através de Bruno de Carvalho, o que é que estava mal. A
única resposta: Benfica. O discurso “incriminador” continuava, e o final do
campeonato não veio amenizar isso.
A ponta do iceberg viria a acontecer no momento
em que 50 pessoas decidiram dirigir-se ao Centro de Treinos de Alcochete e
agredir quem estava lá dentro, em especial os jogadores. Ainda faltava ser
disputada uma final (o Sporting ainda tinha a final da Taça de Portugal contra
o Desportivo das Aves), e este acontecimento, veio demonstrar que um clube
grande estava em crise. O grande problema aqui é que a crise não é financeira.
Consenso
quanto ao problema
Bruno de Carvalho em conferência de imprensa |
Para muitos, antes de qualquer encruzilhada da vida, existe
uma decisão que já está tomada: ser do Sporting. Vasco Fernandes é
universitário e sócio desde que nasceu. Faz parte de uma série de jovens que
têm uma vaga memória de um Sporting ganhador e é apenas algo relacionado com a
fé, que o mantém ligado ao emblema.
Sobre o que se passa atualmente, Vasco não
tem dúvidas: “Eu vejo a questão do Bruno de Carvalho neste momento como um
ciclo, era bom, mudou imenso no clube, trouxe de volta a maior parte das
modalidades, alguma raça competitiva que faltava no futebol, apostou na equipa
e em termos monetários o clube cresceu imenso, mas os ciclos acabam e chega uma
altura em que a própria pessoa tem que ter em mente que … acabou! E perceber
que neste momento já ninguém a vai apoiar no que vai fazer, porquê manter-se na
presidência?”.
Apesar de até ter a coragem de achar Bruno de Carvalho, o melhor
presidente do Sporting que viu, até determinado período, Vasco pensa que está
na altura de vir gente nova e com ideias novas para a gestão do clube. “São
precisas novas maneiras de pensar e que sejam positivas para o clube.
Equilíbrio sobretudo”.
Indo às gerações anteriores, Jorge Afonso não é sócio, mas é
adepto desde a adolescência, quando o padrinho o levou a ver o Sporting à Póvoa
de Varzim em 1975. O Sporting ficou para sempre dentro de si e não perde um jogo,
mas atualmente a tristeza invade o seu coração, no que trata ao clube. “Já
aconteceram tantas coisas graves na história do Sporting, já existem há 112
anos, aproximadamente, e mesmo assim somos 3 milhões e meio de adeptos, é
impressionante!
Embora não ganhemos muitos campeonatos, nem muitas taças, em
relação aos mais diretos adversários e na Europa, este facto é ímpar e por isso
ainda dou mais valor, e eu como sportinguista tinha o orgulho de poder apontar
o dedo aos outros no que diz respeito a coisas como a corrupção e etc… Só que
já não posso, para além de isto ter descredibilizado o clube e o desporto”.
Embora Jorge não ache o Sporting um caos, acha que a nação sportinguista não
merece o que se tem passado nos últimos tempos, nomeadamente da parte do presidente
do clube, Bruno de Carvalho. “Penso que a maioria dos sportinguistas pensa como
eu. Nestes últimos três meses da direção do Bruno de Carvalho, que tem posto o
Sporting em xeque, em favorecimento da parte pessoal dele e da teimosia em que
ele pensa que está a gerir bem o clube, enquanto que eu e outros sócios e
adeptos do Sporting que somos maioria já percebemos que não, porque ele está a
dirigir o clube como se fosse uma mercearia e mesmo numa mercearia, o merceeiro
não dá cabo dos produtos todos e depois vai oferecer aos clientes, não é? Não
tem cabimento nenhum a maneira como ele está a gerir o clube! O Sporting não
merece isto!”.
Tendo sido um apoiante de Bruno de Carvalho e tendo-o defendido
até aos tempos mais recentes, hoje reconhece que se calhar tudo o que defendeu
pode estar em causa. “Já ouvi vários exemplos que decoram essa afirmação dele
que tudo está mal e ele bem, uma autoestrada tem dois sentidos e várias faixas,
mas se um sujeito vai em contramão nunca pode dizer que os outros é que vão
mal, não é? Ou aquela do militar que marchava para a esquerda sozinho, enquanto
os outros marchavam para a direita e a mãe dele diz: ‘todos marcham mal, só o
meu filho é que marcha bem’, ou seja, ele está em contraciclo e não tem
explicação”.
E acrescenta: “Em cinco anos, no primeiro mandato embora
tenha sido bom, já percebi que houve algumas medidas que já estavam adiantadas
do outro (Godinho Lopes) que, para mim, também foi mau presidente, fez tudo
mal, mas pelo menos iniciou um acordo com a banca e resolveu alguns problemas
que vinham de outra presidência falhada, que foi a do Bettencourt. Eu não sabia
disto, mas, teve algum mérito (Bruno de Carvalho), mas foi repartido da
anterior direção, mas claro que teve mérito nas modalidades amadoras e no pavilhão,
mas aí já vi que não foi no tempo dele que se desbloqueou essa questão.
E penso
que o problema para ele não sair, não será só o vencimento, será algo também
relacionado com as contas”. Jorge considera os últimos três presidentes os
piores da história do clube e sente saudades de João Rocha.
Joana Simões, também universitária e sportinguista de
nascença, viu sempre o seu Sporting como um “eclético.” O problema do Sporting
é, para si, também, o presidente Bruno de Carvalho. “Nunca gostei muito dele.
Vi que a maneira de ele fazer as coisas não era a mais correta.”
No que
aconteceu muito recentemente: “Nunca ocorreu nada tão grave (ataque à Academia)
na história do clube, um problema que está a levar os jogadores a rescindirem
contrato e a sair do Sporting. Todas estas confusões começaram a agravar-se
depois de Bruno de Carvalho ter sido eleito.” Olhando para outras modalidades e
comparando-as a outros clubes, mais precisamente os seus rivais,
“Coletivamente, comparando com o Porto e Benfica, o Sporting é dos maiores
clubes a esse nível. Mas depois deixa um pouco a desejar no futebol. Resumindo,
a má gestão, tanto de presidentes como as mudanças bruscas que ocorreram no
cargo de treinador … fez com que isso pudesse fazer com que isto ocorresse.”
Observando a gestão do atual presidente, Joana não tem dúvidas, em relação a
quem atribuir as culpas. “Toda a gente critica e toda a gente vê que as coisas
estão mal, mas ninguém resolve nada. No caso de Bruno de Carvalho, ele decide
criticar toda a gente, principalmente os jogadores do próprio clube, e depois
quando existem problemas, não faz nada para resolver o assunto, e só critica.
Vai falar para o Facebook, e depois não faz nada dentro do clube. Em parte,
pode atribuir-se a culpa aos sócios que votaram nele para continuar.”,
referindo-se claro neste segundo mandato.
Numa crítica ao ataque de Alcochete,
“o problema é o civismo das pessoas. Não é só no Sporting que existem estes
problemas, só que foi aqui, que vimos esse agravamento, e a claque em si devia
apoiar mais o clube, não devia fazer tudo para prejudicar os jogadores. O
futebol não se baseia nisto. São vidas que estão a ser postas em risco.”
Para
Joana, a continuidade de Bruno de Carvalho não tem discussão: “Ele tem de ir
embora. Fez coisas boas no início que melhoraram o clube, mas foi só no início,
porque depois começou a descambar.” Para um novo presidente, Joana tem um
perfil em mente: “É importante termos alguém mais novo a dar voz ao clube, e
que realmente entenda os problemas que estão a haver para poder resolvê-los, e
alguém com experiência a nível do futebol e a nível dos problemas que podem
surgir, para serem resolvidos da melhor maneira possível.”
Três testemunhos, de duas gerações diferentes de
sportinguistas, que têm uma certeza comum: a culpa da atual crise é do
presidente, que o Sporting necessita de recuperar a sua identidade expressa no
seu lema (Esforço, dedicação, devoção e glória). E que o tão desejado
campeonato voltará a ser conquistado.
Adversários
de acordo
Mas, não são só as gentes do Sporting que o veem mal.
Andreia Duarte, portista, vê como problemática no Sporting, o presidente.
“Incentiva ao fanatismo. Pode ter sido essa causa do ataque na academia.” Vê o
Sporting como um dos grandes, e que apesar de ser forte nas modalidades, no
futebol, deixa a desejar.
Mas, apesar do seu coração ser azul e branco, Andreia
acredita que o Sporting vai conseguir salvar-se deste problema que abalou
Alvalade. Já Francisco Gomes, benfiquista de nascença, compara Bruno de Carvalho
a um ditador: “A maneira de gerir o clube como se fosse um ditador é algo
prejudicial para o clube. O presidente é diferente da instituição.”.
A mancha
que ocorreu em Alcochete é algo que deixa Francisco triste: “Há um enorme
respeito por uma instituição centenária, a sua formação já deu muito a
Portugal. É uma coisa que envergonha, ver o que se está a passar no Sporting.”
Se o Sporting vai voltar algum campeonato, “a estratégia do Sporting, de que
rer ser o bully do futebol português, vai levar com que os árbitros, que são
quem sofre com esta gritaria da parte do Sporting, ignorem aos poucos o
Sporting. Ganhou campeonatos apenas com o jogo, sem gritarias.” .
Quanto à
história, “o Sporting sempre foi grande em tudo. Sofreram da “Doença Arsenal”,
ou seja, ‘vamos formar jogadores como se não houvesse amanhã’, mas depois
quando é preciso capitalizar jogadores, o Sporting falha.
Nos últimos anos,
quando era preciso o Sporting declarar-se candidato ao título, “morreu”. Ou
seja, perder onde não deve.” Para salvar o Sporting, Francisco acha que se deve
“destituir o presidente e chamar alguém que sinta o clube e seja inteligente a
gerir o clube.”.
Ataque ao
passado, dúvidas e 'ditadura'
Claque do Sporting no Estádio de Alvalade |
Começam, hoje, a surgir vozes a dizerem que Bruno de
Carvalho nunca devia ter sido presidente e que fez passar o clube por algo que
nunca se tinha visto antes na sua história. Muitos consideram, também,
sobretudo os seus antigos apoiantes, que hoje há muitas dúvidas quanto ao
caminho que o clube seguiu nos últimos cinco anos.
Fica a dúvida se as contas
do clube e SAD estão realmente positivas, se foram melhoradas ou não pela atual
direção, se o pavilhão foi obra deste presidente, e, sobretudo, resta saber se
a corrupção entrou na casa leonina pela mão do diretor desportivo André Geraldes,
para além da violência ocorrida em Alcochete. Bruno de Carvalho foi eleito
presidente do Sporting, na noite de 23 de março de 2013, derrotando os
candidatos José Couceiro e Carlos Severino.
A verdade é que, dois anos antes,
quando perdera as eleições para o engenheiro Godinho Lopes, Bruno de Carvalho
já era alvo de desconfianças, ataques e até insultos. Fica a dúvida se todos os
seus adversários desde então já sonhavam que uma possível presidência sua ia
ser assim, porque não é por acaso que ex-presidentes, como, Filipe Franco, José
Roquette, Godinho Lopes entre outros, sempre se opuseram ao atual presidente.
Muitos consideram que assim foi, porque Bruno de Carvalho quis reescrever a
história do clube, tentando denegrir o passado e dividindo-o num Sporting do
antes e depois. Há quem diga que só os autoritários fizeram algo semelhante.
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