BlacKkKlansman: O infiltrado –
Spike Lee volta a atacar
No passado mês de setembro, estreou em Portugal o mais recente filme do cineasta Spike Lee: “BlacKkKlasman: O infiltrado”.
Baseado
numa história verídica, o filme passa-se nos anos 70 e conta como Ron
Stallworth (John David Washington), um polícia afro-americano do Colorado, se
conseguiu infiltrar no grupo Ku Klux Klan (KKK). Como braço direito, tinha Flip
(Adam Driver), um detetive judaico. Em conjunto, comunicavam entre si, sendo
que Ron era quem recebia os telefonemas e conquistava a confiança do líder do KKK,
e Flip era enviado para interpretar Ron fisicamente. Depois de vários meses de
investigação, Ron conseguiu tornar-se líder da seita, tendo conseguido sabotar
vários planos associados a crimes racistas que o grupo planeava contra os
negros.
Apesar
de nos referirmos a ele como um único grupo, Ku Klux Klan é o conceito
utilizado para designar três movimentos distintos. Formada nos EUA no século
XIX, trata-se de uma seita racista que não aceitava a inserção dos negros na
sociedade. O seu principal objetivo era garantir a supremacia branca no país e,
para isso, organizavam movimentos de ódio que incluíam ataques aos negros, de
forma a intimidá-los. Alguns outros conceitos presentes na sua ideologia eram o
antissemitismo, a anti-imigração, a homofobia, o neonazismo e a anti
miscigenação.
Ícone
de relevo no cinema afro-americano, Spike Lee aborda a temática racial nos seus
projetos, alertando para a necessidade de consciencialização das mentalidades
sobre os problemas sociais do país.
Denunciando
o racismo com um toque de humor e tendo em conta a situação histórica, Spike
Lee consegue prender o espectador ao ecrã do início ao fim. A cada segundo,
somos bombardeados com diálogos cheios de ritmo entre as personagens e cenas de
ação. Tudo isto tendo em consideração as críticas de cunho político-social. É precisamente o que torna o filme tão
interessante. O cineasta dá, também, particular atenção à cultura e à forma de estar
na sociedade da época.
O
elenco merece todo o destaque. John David Washington domina cada cena em que
aparece e rouba a atenção do público, centrando-a em si. Adam Driver, bem... Já
se sabe. Interpreta o seu papel com uma naturalidade estupenda, tal como nos
tem habituado em outros projetos. Até mesmo os atores secundários são tão bons
quanto os principais.
São
alguns os marcos históricos exibidos ao longo do filme. Logo no início, é-nos
apresentado um pequeno excerto de “O nascimento de uma nação” (1915), que
retrata o movimento de libertação dos escravos negros. No final, o discurso de
Harry Belafonte (cantor e ativista dos direitos civis), denunciando o
presidente dos EUA, Donald Trump, como sendo um “erro nacional”. Encerra com
imagens do conflito racial que ocorreu em Charlottesville no ano passado, e
alguns discursos de exaltação do racismo feitos por Trump.
Na
minha opinião, este filme é uma obra de arte. Merece ser visto, revisto e
discutido, pois expõe de forma magnífica e com um toque de humor negro, alguns
aspetos da sociedade aos quais, muitos de nós, não dão a devida importância.
Poster do filme BlacKkKlansman |
Joana
Simões 02/11/2018
Os membros do blogue Politicamente Incorretos agradecem à autora deste artigo por ter aceite o nosso convite e ter escrito para o nosso espaço.
Os membros do blogue Politicamente Incorretos agradecem à autora deste artigo por ter aceite o nosso convite e ter escrito para o nosso espaço.
Comentários
Enviar um comentário