Joker, um menino ao pé da sociedade
“Joker” é, sem dúvida, o filme do momento, da semana, do
mês, do ano, de sempre. Independentemente da vossa posição relativamente ao
filme, é inegável que este, que aborda um dos mais perigosos e melhores vilões
de banda desenhada, está muito longe de estar entre o lixo que a Warner costuma
produzir. Mas nem é sobre a Warner nem sobre o filme (talvez neste falarei um
pouco) que eu venho falar hoje. Para verem uma análise ao filme, aqui no blog,
pesquisem o artigo da Joana do passado sábado (“When you bring me out, can you introduce me as Joker?”), que terão lá um pouco daquilo que também
considero como uma opinião minha. Mas, ainda não irei começar este artigo sem
antes falar sobre o que realmente me traz cá, que é a conversa de que este
filme pode levar a que as pessoas sejam iguais a um vilão de banda desenhada e
que ao ver o filme passem a matar sem mais nem menos.
Vamos por partes. No meu tempo de vida, e já não é assim tão
curto quanto parece, o cinema sempre mostrou contar histórias que já se
passaram, e nunca aquelas que hão de vir (e não, não vão existir super-heróis,
nem tornados de tubarões, ou zombies. Esqueçam, ultrapassem. Isso não vai
acontecer). Eu pelo menos sempre tive esse pensamento, mas também quem sou eu
para falar. No entanto, as pessoas parecem estar a embirrar com este filme,
apenas porque a atuação que Joaquin Phoenix faz no filme, para além da história
que é retratada, nos faz sentir empatia com um personagem deste género. Nunca
pensei ver no mesmo filme empatia e Warner, mas bem, vou acabar com as bocas à
Warner. Não quero ser processado.
Explicando um pouco a trama (para quem foi preguiçoso e não
foi ler o artigo da Joana), o filme mostra a vida de Arthur Fleck. Desde a sua
vida pessoal até à profissional e todos os fatores que o levam a transformar-se
no Joker. É inequívoco, até mesmo para aqueles que não acompanham a fundo este
mundo fictício, que a “arma principal” do Joker é o de matar (na sua essência,
é o de matar com piada. E não, não é nenhum spoiler. Vejam as inúmeras
interpretações feitas ao personagem), só que esta “arma” nunca tinha sido
demonstrada tão aberta e acertadamente quanto neste filme. Sim, já tivemos 5
Jokers no cinema, mas só o de Phoenix (que sejamos sinceros, não é O Joker,
vilão de Batman) é que conseguiu mostrar a essência do vilão, e, aproveitando
do facto de que o filme é para maiores de 14 em Portugal, 18 nos Estados
Unidos, mostrar um pouco mais do que aquilo que se vê quando se mata alguém num
filme para maiores de 12.
Os críticos, e quem teve a sorte de ver o filme antes deste
ser lançado a nível mundial, começaram a criar uma nota negativa tal, porque
este, como fazia com que sentíssemos empatia por Arthur Fleck, podia levar a
que quem visse o filme e tivesse estes problemas (ou simplesmente quem se
revisse no personagem) iria começar a adotar as ações de Joker e ia começar a
matar na vida real. Oh meus amigos, vamos lá ver o seguinte, o Wolverine matou
no filme “Logan”, eu senti empatia pelo personagem, mas não foi por isso que me
começaram a crescer garras de Adamantium nas mãos. Outro exemplo é o de
Deadpool, que também vimos matar. Inúmeros filmes de terror ou de outro género,
onde existe morte expressa demais. Existem mais exemplos, mas o importante
referir aqui, é que no conto geral, não vi a sociedade a erguer-se mortífera e
a matar desalmadamente tudo o que lhes aparecesse à frente. Porque raio é que
agora vêm reclamar com o “Joker”? Poderão dizer-me que é por se sentir empatia
com o personagem, ou porque revemos a sociedade do filme na nossa, entre outras
coisas, mas isso não é justificação. Se isto realmente acontecer (que eu espero
que nunca aconteça) o problema já está dentro da própria pessoa, que não teve
ajuda da sociedade que prefere reclamar com a mínima letra do que alguém
escreve nas redes sociais, do que estar atenta a quem está à sua volta e tem
estes problemas. Podem chamar-me maluco, mas eu vi a nossa sociedade quotidiana,
aqueles com quem lidamos e aqueles que vemos nos noticiários, representados
pela sociedade do “Joker”, e devo dizer-vos que isso me assusta bastante,
porque acredito que é o que Todd Philips vê (porque se não fosse, não tinha
pressionado a Warner para o fazer) e quer fazer ver à sua sociedade, para ver
se de uma vez por todas acordamos.
O cinema hoje tem esta tendência de pegar nos problemas da
sociedade e transformá-los num filme, que, sejamos sinceros, ainda é o que
consegue chegar a mais gente. O ter filmes de super-heróis de banda desenhada
não são só efeitos nele, existe toda uma história a ser transmitida, uma coisa
a ser criticada, porque simplesmente é o meio em que podemos ser diretos com
alguma coisa ou alguém usando a forma indireta (explicando-me, criticar alguém
não enunciando o nome dessa mesma pessoa).
Não se esqueçam que nós, como uma sociedade, como um todo,
se nos unirmos e deixarmos de pôr “exagero” em tudo o que fazemos, vamos
conseguir ser melhores e não precisaremos de continuar a reclamar com filmes,
arte, entre inúmeras outras coisas, só porque não é politicamente correto. A
sociedade atual está bem demonstrada no filme “Joker” e se todos tivermos um
pingo de senso comum, vemos que o que estamos a fazer na realidade é exatamente
o mesmo que é retratado no filme. Por isso, repito que o cinema só traz coisas
que aconteceram ou estão a acontecer, e se pudermos, que mudemos os nossos
comportamentos antes que seja tarde demais. Não basta sermos só pessoas, temos
de ser, também, humanos.
André Ferreira 07/10/2019
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