Avançar para o conteúdo principal

"When you bring me out, can you introduce me as Joker?"

"When you bring me out, can you introduce me as Joker?"

“Joker” é o filme que tem dado que falar nos últimos tempos. É já considerado o melhor, se não um dos melhores, do ano. Há quem até já o aponte como um filme digno de Óscar. A interpretação de Joaquin Phoenix é vista como avassaladora, genial. Tudo isto e com razão.

O "palhaço do crime" é adorado por muitos no mundo dos quadradinhos da DC e há muito que os fãs ansiavam por uma nova história de origem para este vilão tão carismático. A aposta em Joaquin Phoenix para vestir a pele do vilão é, sem dúvida, o que torna o filme tão bom.

Desde o primeiro minuto que o espectador é confrontado com o dia a dia, aparentemente normal, de Arthur Fleck: um palhaço de rua que ganha a vida a fazer pequenos trabalhos. No entanto, percebemos que a sua vida não é nada fácil: é desprezado, maltratado, e posto de parte pela sociedade. Uma das razões para isso é o facto de Arthur sofrer de uma doença que o faz rir compulsivamente, riso esse que é incapaz de controlar. O desconforto da personagem é tal que leva o espectador a senti-lo na pele. Chega até a ser demasiado deprimente.

Arthur tem um sonho: ser comediante de stand-up, algo que parece ser cada vez mais difícil de alcançar a cada dia que passa. Traz sempre consigo o seu caderno de apontamentos onde vai escrevendo uma piada ou outra, piadas essas baseadas nas peripécias da vida e aquilo que o assombra, aquilo que mais o repugna: uma sociedade corrompida. Gotham City é um poço sem fundo onde a criminalidade é cada vez mais elevada e as dificuldades económicas se fazem sentir. É um mundo simplesmente caótico no qual a personagem tem de aprender a sobreviver.

Arthur é humilhado, enganado, desprezado por todos. Isto leva-nos a recear que a certa altura seja capaz de cometer uma loucura e, quiçá, cometer suicídio. Somos assombrados por essa ideia no decorrer do filme, pois Arthur faz questão de sublinhar constantemente que o seu desejo é "que a sua morte faça mais sentido que a vida". A partir desse momento, ele transforma-se no temível palhaço do crime e tem a coragem que estava escondida dentro de si para ripostar perante as adversidades que encontra no caminho. 

Um dos aspetos marcam o filme é sem dúvida a crítica social presente. Há muitas obras que retratam o flagelo que é uma sociedade corrompida, mas são poucas as que demonstram de forma nua e crua o que se passa realmente à nossa volta. Em “Joker”, conseguimos ter essa perceção. Vemo-nos na pele de Arthur, e Gotham City representa a nossa sociedade atual. O filme tem um objetivo fulcral: mostrar o background do vilão, bem como tudo aquilo que o levou à loucura e à prática de crimes violentos. E a verdade é que a grande culpada de tudo isso é a própria sociedade, a escuridão que nela existe e à qual a personagem está constantemente exposta.

A realização de Todd Philips é ótima, a fotografia é brilhante e a trilha sonora perfeita. É uma história que acaba por fugir um pouco ao padrão dos filmes da DC a que estamos habituados no sentido em que acaba por nos fazer refletir mais.

Mas a verdade é que os louros vão todos para Joaquin Phoenix. Não é nada fácil carregar o filme todo às costas e Phoenix fez isso com a maior das eficácias. A sua prestação ficará, de certo, para a história. A sua atuação é simplesmente brilhante e atrevo-me a dizer que está ao mesmo nível da de Heath Ledger em “O Cavaleiro das Trevas”. Desde os movimentos de dança serenos, mas carregados de significado, e que demonstram um certo desconforto e ansiedade, até às expressões corporais e o seu olhar intenso. 

O mundo da Sétima Arte estava mesmo a precisar de um filme assim. É mais uma das provas de que não é preciso um grande orçamento e uma tela carregada de efeitos especiais para construir algo que fique para a história, e que consiga passar uma mensagem de forma tão sublime. Joaquin Phoenix conseguiu demonstrar a verdadeira essência do Joker. Sem rodeios e sem tabus, percebemos o quão tresloucada a mente humana se pode vir a tornar, e quais os fatores que o impulsionam.

É incrível a capacidade que um filme sobre um vilão de BD tem para conseguir reunir temas tão atuais e controversos que merecem ser discutidos. É genial a forma como a obra procura ir ao encontro ao espectador e o confronte com as mais diversas questões sobre o rumo que a nossa sociedade está a tomar.


Joana Simões                    05/10/2019

Comentários

Mensagens populares deste blogue

FPF e LPFP a coragem na cobardia

FPF e LPFP a coragem na cobardia Efim, durante muito, eu pensei se devia ou não trazer este tema, no entanto, parece que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) têm vindo a fazer asneiras de propósito, para que este texto acontecesse, por isso pronto, aqui vai. Têm sido diversos os casos que me têm irritado. São exemplos, as multas com valores estupidamente baixos para treinadores/elementos dos três grandes, em comparação com o caso do Casa Pia (que apenas por um treinador não certificado ter dado instruções para dentro de campo, levou uma punição bastante musculada; no entanto, recentemente, estes organismos voltaram a pôr a pata na poça, por causa do Académico de Viseu, que pode ver a sua licença de participação em competições profissionais suspensa, devido a falsas declarações prestadas à Liga, em questões financeiras. Este caso que remota a 2018, ao que parece, viola o artigo 92º do regulamento da LFPF, sendo que o clube p...

Reportagem | TerraNova uma rádio com história!

TerraNova uma rádio com história! Os Politicamente Incorretos, fizeram uma pesquisa sobre uma das rádios mais relevantes e enraizadas da região de Aveiro. Este Trabalho foi feito na sequência da cadeira de História dos Média. Esperemos que gostem desta nossa investigação! Muitos mais documentários , investigações e vídeos variados, serão produzidos no futuro por todos os membros deste Blog. Canal de Youtube dos PI - www.youtube.com/channel/UCq5DIqxPZEDvVCevnqfOtSg Facebook dos PI - www.facebook.com/PoliticamenteIncorretosPT Tiago Queirós | Jorge Afonso | André Ferreira | Francisco Gomes 01/07/2018

Mundial 2018 | Quartos-de-Final

Mundial 2018 | Quartos-de-Final Logótipo oficial do Mundial da Rússia 2018 No tudo ou nada, as equipas estão cada vez mais perto de chegar ao grande objetivo: vencer a Taça de Campeão do Mundo 2018. Mais uma etapa passada, e desta vez, 4 equipas que passam, em jogos alucinantes, que demonstram que apesar de tudo, ainda não se pode saber muito quem é que será o mais provável de ganhar. Assim sendo, vou passar à minha análise dos jogos dos quartos-de-final deste Mundial: Uruguai (0) – (2) França: o favorito era a França e foi a França que passou. Numa primeira parte muito bem equilibrada, a França conseguiu adiantar-se no marcador bem perto do intervalo, aos 40 minutos, por intermédio de Varane. Mas a segunda parte não foi melhor. Houve mais um golo (e que golo!), este de Griezmann, de fora da área, aos 61 minutos. A bola descreve um arco, enganando por completo Muslera (que frango!). Daí para a frente o jogo acalmou, houveram ataques em cada ...

Game of Thrones: A Song of Ice and Fire

Game of Thrones: A Song of Ice and Fire “ When you play the game of thrones, you win or you die .” – Cersei Lannister Game of Thrones é uma série norte-americana, emitida pela HBO. Baseada na saga de livros A Song of Ice and Fire , de George R. R. Martin, é uma das séries mais vistas não só em Portugal, como também em todo o mundo. Mas afinal de contas, o que é que esta série tem de tão especial? Para além dos dragões, os episódios de incesto, a luta pelo tão desejado trono e os temidos White Walkers , ela abarca uma série de temáticas que podem ser muito discutidas e que refletem alguns comportamentos da sociedade em que vivemos. Ao longo do primeiro episódio e dos próximos até ao final da 1ª temporada, a série limita-se a apresentar-nos a história principal e a caraterização das personagens. Começando por fazer um breve resumo, a história passa-se no continente de Westeros , e tem como protagonistas as casas Stark, Lannister e Targaryen. O primeiro e...

Tony Carreira: reservado e correto ou grosseiro e aldrabão?

Tony Carreira: reservado e correto ou grosseiro e aldrabão? Há quase um ano atrás, o cantor Tony Carreira foi acusado pelo Ministério Público de plagiar em mais de uma dezena de músicas, que Tony ao longo dos últimos anos declarou nos discos como suas quando as letras ou os tons foram adaptadas/os ou totalmente copiadas/os a outros artistas estrangeiros. Perante a acusação em plena opinião pública, o artista português defendeu-se dizendo que é falso e que se trata de alguém que se quer vingar, mas uma coisa é certa, se formos a analisar os dois lados da história temos que nos questionar se afinal nos últimos largos anos em que Tony Carreira ou apaixonou multidões e ganhou apenas respeito das outras pelo seu profissionalismo, foi reservado e correto ou foi um grosseiro aldrabão. Todos nós conhecemos Tony Carreira, uma boa parte das suas canções todos conhecem porque ficam no ouvido. Apesar de eu não gostar do artista nem nunca na vida ter comprado um disco dele(nem o vou fazer...