Scorsese não pode dizer nada
Hoje, trago um tema que já foi divulgado para o público há
algumas semanas. A opinião de Martin Scorsese, entre outros, relativamente aos
filmes da Marvel Studios, ou do género. Mas, não é só sobre as palavras que
Scorsese referiu que vos venho falar, mas toda a envolvência que isso teve na
internet.
Começando a explicar o sucedido para quem se desliga do
virtual, Martin Scorsese declarou, no passado dia 4 de outubro, numa entrevista
à revista Empire, que os filmes da Marvel não eram cinema: “Eu tentei (ver os
filmes), sabe. Mas isso não é cinema.”, começou por referir na entrevista. Ok,
apenas com esta parte da citação, muitos jornais e sites aproveitam para receber
cliques, porque hoje, tudo o que tem a ver com a Marvel e que seja algo
negativo acerca da empresa, é logo bastante visitado, e comentado
posteriormente pelas redes sociais. Mas indo ao cerne da questão, isto é a
opinião dele. Ele começou por dizer que tentou ver, mas não conseguiu. Ok.
Ponto final. Também, basta olhar para a carreira dele e ver o género de filmes
que Scorsese fez para perceber o estilo que ele verdadeiramente gosta no
cinema.
Mas, continuando com o que Scorsese disse: “Honestamente, o
mais perto que posso estar deles, por mais bem feitos que sejam, com atores que
fazem o melhor possível nessas circunstâncias, são os parques temáticos.” Mais
uma vez, uma opinião demonstrada pelas suas preferências. É certo que hoje,
muitos realizadores ainda não aceitam este novo formato de fazer filmes, ou
cinema (como preferirem). Apesar de mais caro, as produtoras estão a apostar fazer
cada vez mais filmes com esta temática do CGI, também porque permite a que
muitas outras pessoas vejam os seus “sonhos” a serem vistos. Quem diria nos
anos 90 que se conseguiria fazer um filme de super-heróis com tanto detalhe,
como os que a Marvel faz? Agora, é notório que Scorsese não faz alusão ao
trabalho dos atores por duas razões: uma é a de que ele pode ainda vir a trabalhar
com eles e seria um ambiente muito mau se ele dissesse que os atores são
horríveis; e a segunda, é que de facto eles estão a representar, e não estou a
ver um realizador de renome tratar os atores da Marvel como de segunda
categoria (e atenção, que muitos deles são atores de peso).
E relativamente à última parte da citação: “Não é o cinema
que tem seres humanos a tentar transmitir experiências emocionais e
psicológicas a outros seres humanos”. Bem, acho que aqui Martin Scorsese errou
em ter dito isto, mas calma que eu explico o porquê. Ora bem, a explicação aqui
é muito simples, se ele não viu os filmes que a Marvel Studios produziu, como é
que ele sabe se eles não têm seres humanos a tentar transmitir experiências
emocionais e psicológicas? Eu, que vi todos os filmes do MCU, digo que estes
foram transmitindo essas experiências ao longo (não de todos) de alguns longas.
É certo que o foco principal da empresa não passa por aí, mas já reparei que
quando a Marvel quer, consegue transmitir muitas mensagens sociais dentro dos
seus filmes.
A Martin Scorsese juntaram-se muitos outros, entre eles
Jennifer Anniston, Francis Ford Coppola, Robert de Niro, entre outros, que, dando as suas
razões mais pessoais (que não estou a ver uma análise crítica. Para não falar que
provavelmente, nenhum dos que falou viu os filmes) foram mostrando e dizendo
que os filmes da Marvel eram maus por isto, horríveis por aquilo, ou até mesmo “desprezíveis”.
Mas o outro lado também se fez ouvir, entre eles muitos dos que trabalham
dentro da Marvel Studios (aqui refiro-me a realizadores e atores) James Gunn,
Taika Waititi, Natalie Portman, Robert Downey Jr são alguns dos nomes que
tentaram mostrar o outro lado da moeda.
Mas agora, passo ao foco principal, que já algumas vezes foi
abordado aqui, no blog. O problema em causa não está nas palavras que o
realizador norte-americano proferiu, mas sim no que isso provocou pelo mundo,
mais pelas redes sociais. Depois do que Scorsese disse ter saído para o
público, como referi anteriormente, muitos sites aproveitaram-se para fazer o
chamado “clickbait” e depois de tantos cliques, a mensagem espalha-se e
começaram os comentários por tudo o que é sítio.
Uma pergunta simples que faço: Mas agora uma pessoa não pode
dar a sua própria opinião, ou tem que ter a mesma opinião que o resto das
pessoas? Eu gosto muito de Martin Scorsese e de outros que “falaram mal” da
Marvel, e do trabalho deles, que muito do que foi feito marcou gerações e a
forma de fazer cinema, mas não estaremos a entrar num ponto em que estamos tão
fechados nos nossos gostos pessoais, que temos de ter todos a mesma opinião? Eu
na minha vida já tive inúmeras opiniões diferentes de muitas pessoas, todos os
dias cada um de nós têm exatamente a mesma coisa a acontecer à sua volta. Nunca
vi nenhuma pessoa a concordar com tudo o que é dito. Isso, deixem-me dizer-vos
é só ser estúpido.
Atualmente estou a ver a série Black Mirror, que destaca inúmeros
problemas da sociedade atual, mascarada com o futuro, e acreditem que tal como
no filme “Joker”, estou a conseguir rever a nossa sociedade, a sociedade real,
numa ficcional. Acho que estamos a entrar num ponto em que daqui a nada as opiniões
têm de ser compradas, caso as queiram conhecer.
Eu gosto de muita coisa, desgosto de outras, Scorsese a
mesma coisa, mas isso não faz com que agora todos tenhamos de cair em cima do
homem se ele não fez mal nenhum. Eu acho que ele não matou ninguém para estar a
ser tão massacrado com o disse. Não vamos ser a sociedade demonstrada no
episódio White Bear, de Black Mirror. Cada um tem o direito à sua opinião, de a
dar, e quem não gosta, olha que fique na sua, mas calado. Como o Francisco
costuma chamar a pessoas “internetmente”
intelectuais (termo inventado): “Oh grunhos, eh pá, calem-se”.
André Ferreira 21/10/2019
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