A espiral da maldade
Talvez já vos tenha trazido um ou mais artigos com a minha
exposição relativamente a este tema, mas acontecimentos recentes fizeram-me
escrever este artigo, onde eu tentarei demonstrar, mais uma vez, o que eu acho
sobre, não só as redes sociais, mas a tecnologia no geral.
Para vos explicar o que me fez escrever sobre isto, na
semana passada, um jovem com a minha idade, com o nome artístico MC Gui, filmou
e publicou um vídeo nas suas redes sociais, onde fazia troça de uma criança que
estava mascarada de Boo, num dos parques da Disney, em Orlando. Sendo direto, e
sem rodeios, a menina tem cancro e está a passar por uma fase de quimioterapia,
sendo óbvio que o cabelo tenha acabado por cair (peço desculpa se isto parece
brusco, mas é a verdade). Ora, ela no parque estava a usar uma peruca da Boo, e
o que deveria ter chamado a atenção a este jovem, que se diz músico, foi… eh pá,
ainda hoje estou para perceber o que foi. Já existem muitas pessoas, e ainda
bem, sãs que já se mostraram e estão a mostrar contra esta atitude do jovem,
apesar de ele já se ter defendido. Mas bem, esta defesa já não vale de nada,
porque o bullying, e sim aquilo foi bullying, já aconteceu e ainda por cima foi
filmado. Se o MC criança Gui for decente, que oiça (várias vezes, de
preferência) o que disse na gravação para ver se foi bullying ou não. Mas bem,
não me vou alongar mais na explicação, porque têm um artigo do Francisco, onde
podem ler o que se passou, bem como a sua opinião (MC Gui, quando a estupidez publica.).
Mas, não é só este tipo de acontecimentos que me despertam
para a escrita deste artigo. A série Black Mirror, que só agora estou a ver (eu
sei, shame on me), demonstra muito bem, usando a hipérbole (o exagero) o que é
que as redes sociais, a tecnologia, entre outras coisas, fazem à sociedade e
como é que estas estão a ser aproveitadas, ou podem vir a ser aproveitadas,
graças à super inteligência de pessoas horríveis. Eu sei que é uma série e tal,
mas não se esqueçam que a nossa sociedade já esteve muito, mas mesmo muito
melhor.
É inequívoco que as redes sociais e as novas tecnologias são
muito boas e benéficas para quem está longe poder comunicar com quem mais gosta,
etc., isso é inegável. Mas a meu ver, estamos a entrar numa fase em que estas
mesmas tecnologias estão a ser usadas para coisas que não deveriam ser usadas.
Todos os dias vemos pessoas a serem gozadas, outras a maltratar, outras
simplesmente a fomentar mais ódio. E é então que este mal se alastra. Este tipo
de “vírus” propaga-se, e vai continuar a propagar-se, porque há sempre
respostas para comentários, quer eles sejam bons ou maus. Alguém arranja sempre
uma desculpa. Mas um dos outros fatores que impede este vírus de ser extinto é
que na internet, principalmente nas redes sociais, não existem filtros. Não,
não são esse tipo de filtros. Os que eu estou a falar são aqueles que as
pessoas dizem tudo sem pensar duas vezes, sem pensar se aquilo vai realmente
magoar alguém, se vai provocar cicatrizes internas, ou aumentar as que já se
têm. A internet hoje provoca isso. Para não falar de casos de suicídio que
acontecem, após uma “discussão” entre duas pessoas.
E também estamos a entrar numa era em que ninguém pode errar.
Ou seja, as figuras públicas, ou como lhes queiram chamar, não podem errar,
porque senão o mundo cai-lhes em cima porque deviam saber mais antes de
publicar, ou porque não deviam ter publicado, ou porque isto, ou porque aquilo.
Malta. Calma. O mundo não acaba amanhã. Para não falar que nós todos somos
humanos. Damos erros. Aprendemos com eles. Ultrapassamos quem é parasita para
nós, e acolhemos quem nos quer bem. O ser humano é assim. Temos de aprender a
lidar mais com as pessoas e a não explodir tantas vezes. Mas sim, hoje se
dizemos algo um pouco errado, ou até mesmo totalmente errado, as pessoas não
perdoam e aproveitam para enxovalhar as que erram, simplesmente porque gostam e
não têm mais nada que fazer. Mas depois também há aqueles casos em que são as
pessoas que percebem mal, e começam a “mandar vir”, e depois quando veem que
estão erradas, simplesmente não assumem o erro, e deixam passar como se nada
fosse. A internet, hoje, é assim.
O caso da pequena menina, no parque da Disney, fez muitas
pessoas virarem-se, e bem, contra o jovem, mas já repararam que se deu mais
importância ao jovem (a maltratá-lo, ofendê-lo, etc.), e aos concertos e
patrocínios que perdeu, do que realmente falar sobre os sentimentos que a
menina poderia estar a passar? Não estou a dizer que toda a gente fez isso, mas
deu-se mais foco a quem fez o mal, e falou-se mais nele, do que em quem
realmente sofreu. Vocês vejam se percebem, que quanto mais falarem de quem faz
mal, isso só vai ser bom para ele, porque está a ter visibilidade. Eu até à
semana passada, não conhecia tal sujeito, e quando vi o vídeo passei a odiá-lo,
mas não foi por isso que fui logo para internet, armado em pita, ofender o
rapaz. Não, eu não vou fazer o mesmo que ele fez à criança. Apesar de merecer,
não vou descer tão baixo, nem ser igual a ele.
Tudo na vida deve ser levado com moderação. Tudo, mesmo.
Muita gente reclama com os videojogos, por serem violentos, mas isso acontece
se a pessoa que os usar não for moderada. E o mesmo acontece com o álcool, com
a visualização de séries, filmes, entre outras coisas, bem como as redes
sociais. Eu sei que este texto não vai mudar o mundo, e que eu não tenho o
alcance que um Robert Downey Jr. tem, mas se eu conseguir fazer com que as
pessoas que lerem este artigo percebam a mensagem, e a passem para outros, eu
já fico feliz. Mesmo que nunca venha a descobrir a verdadeira origem de tal
mudança.
PS: este é o meu 50º
artigo. Só um pequeno agradecimento a todos os que me têm acompanhado, nos
textos e não só, e ajudado neste percurso de escrita, que até à pouco eu não
gostava muito de escrever, mas que este blog me ajudou a mudar. Obrigado!
André Ferreira 28/10/2019
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