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A Palavra

A Palavra

Antes de começar, deixem-me dizer-vos que estou a escrever este texto não porque aconteceu algo de importante que me tenha levado a escrever este artigo, mas sim porque cada vez mais noto a forma como é que a palavra (ou neste caso a falta dela) estão a influenciar tudo e todos.

Para não começar já a disparar para todos os lados, e como todos devem perceber (alguns lembrar-se) antigamente a palavra era tudo. Era o que ditava o que iria acontecer (num determinado produto, ou num negócio, ou até mesmo numa simples confissão). Não sei a razão certa para isso acontecer, mas como não havia algo mais a que as pessoas se pudessem agarrar caso alguma coisa corresse mal, as pessoas acreditavam na palavra. Hoje, isso é algo que já não existe.

Os “negócios” são feitos já com dinheiro, as confissões quase que não interessam (e aqui não me refiro só às da Igreja). A palavra já não conta para nada. As promessas são outra coisa que já não interessam. Uma pessoa hoje diz uma coisa, amanhã já está a dizer outra, ou a fazer rigorosamente o contrário que disse que ia fazer. Com a falta da “palavra” perdem-se outras coisas como a confiança, o acreditar naquela pessoa, e muitas vezes amizades de uma vida.

Uma causa proveniente deste fenómeno, para o qual a ciência ainda não encontrou cura, é o agora termos a oportunidade de dizer e fazer tudo aquilo que queremos (com algumas regras claro. E não me espanquem porque não sou nenhum extremista ditador. É verdade que, felizmente, nunca vivi em nenhum tempo em que a ditadura era lei, no entanto gosto e admiro a minha liberdade, incluindo a de expressão). Outro ponto caricato é o de que uma palavra hoje significa inúmeras coisas. Perdoem-me a expressão os mais sensíveis, mas do que eu aprendi com enciclopédias, é que o caralho era o ponto mais alto de um navio, e não um palavrão, como o é hoje em dia.

E pronto, esta pequena explicação está aqui porque eu, já há muito tempo que comecei a notar que o poder da palavra está a desaparecer. Uma pessoa diz “prometo” e no dia a seguir está a conspirar com outro, uma pessoa começa uma conversa pacificamente a expor todos os seus planos e a pessoa reage de forma idiota a pensar que tudo e todos a estão a atacar.
Outra coisa que me irrita é o facto de estarem todos os membros de uma família (por exemplo num restaurante ou num café) agarrados aos telemóveis, a teclar, a fazer scroll, e de cabeça para baixo, em vez de estarem a dialogar, a falar, a fazer o que realmente o ser humano foi dotado para fazer.

Por isso, vamos respirar todos, interiorizar que somos todos humanos. Temos o dom da palavra, não o de estar constantemente a teclar. Usemos aquilo que temos e deixemo-nos de estar constantemente a fingir uma coisa, e passado muito tempo descobre-se que são outra.

Eu sei que divaguei um pouco no tema central, mas este artigo foi mais uma espécie de desabafo do que de opinião. Ainda assim, espero que tenham gostado.

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André Ferreira                        29/07/2019

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