Uma sociedade sem causas, a nostalgia
do antigamente
Fala-se muito do antigamente, que antigamente é que era bom,
que antigamente é que era mau, que antigamente era tudo mais fácil ou que
antigamente era tudo mais difícil. Mas há algo que é certo, existem muitas
pessoas que se passeiam por aí e pelas quais todos os dias passamos na rua que
acham que as coisas se encontram hoje piores, com poucas perspetivas de futuro
e consideram que foi no passado que ficaram as boas causas e maneiras.
Olhamos para a política e vemos partidos somente
pragmáticos, a lutar para conseguir o poder pelo poder e a pôr os valores de
lado porque os mesmos chegaram à conclusão que os mesmos mais a ideologia, não
põem pão, carne e vinho na mesa… Quando antes andavam à batatada na rua após o
25 de abril pela ideologia. Que exemplo!
Olhamos para o desporto, nomeadamente para o futebol, só há
suspeitas, denúncias anónimas, insultos, ameaças e agressões. Claro que todos
sabemos que esse desporto é mais do que onze contra onze com uma bola, é
paixão, é atitude, é caráter e é fidelidade, mas envolve também sobretudo
educação e deve estar abaixo do que é mais importante na nossa vida. Mas a
verdade é que hoje há pessoas a andarem à bulha por causa de um desporto, como
se viu recentemente no seu caso mais extremo de violência em Alcochete, quando
antes se ia à vontade para o estádio do rival com cachecol e sem preocupações.
Olhamos para a cultura e vemos um setor que vive à conta das
migalhas que certas autarquias querem dar, algo que é nada compreensível num
país evoluído, quando a maior figura da democracia ocidental Winston Churchill
se recusou na altura pós-segunda guerra mundial a cortar no orçamento da
cultura, pois considerava que cortar na cultura era não valorizar nada a luta
que se travou. No entanto o que vemos? Vemos pouca aposta na cultura e muita
aposta em obras públicas e parcerias público privadas que dificilmente um dia
vamos conseguir pagar, algumas impagáveis mesmo…
E mais setores haveria a falar. Politica e socialmente o
nosso país e a nossa sociedade tiveram muitos azares, por vezes provocados… Já
viram? Ficou para trás a educação, entrou-se num numa loucura de consumismo e
num novo-riquismo acima das possibilidades, o que naturalmente está ligado à
corrupção que todos abominamos. O ensino é uma miséria, a justiça outra miséria
e os corruptos? Nós não conhecemos nenhum, mas temos a sensação que todos os
dias nos cruzamos com eles…
Vemos muita juventude sem causas, apenas a viver o presente,
esquecendo o passado que devia ser lembrado e sem olhar para o que devia ser
feito no futuro e vemos pessoas mais velhas a perder o pé e a sentirem-se a
mais na nossa sociedade, porque é por essa altura que se começam a ver as
poucas possibilidades que ainda vão ter a nível de emprego e importância, algo
que não pode acontecer num país evoluído a nível de mentalidades.
Tudo vem e tudo passa, mas pouco fica… No fundo o que
parece, é que só fica isto: Uma sociedade sem causas, apenas a viver o presente
e uma enorme nostalgia de um passado que já não volta.
Jorge Afonso 21/05/2018
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