Avançar para o conteúdo principal

Armas = proteção?

Armas = proteção?


O porte de armas de fogo nos EUA é um tema deveras polémico e complexo que deve ser seriamente debatido. Nos últimos dias, são inúmeros os massacres a que temos vindo a assistir nos meios de comunicação social, daí a pertinência do tema. 

É preciso recuar uns bons anos para vermos como surgiu a legalidade do uso e porte de armas de fogo, no caso específico dos EUA. Em 1791, foi aprovada a Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos que protege o direito da população de manter e portar armas. A partir do século XIX, os tribunais dos Estados Unidos passaram a dar diferentes interpretações à Emenda, colocando em cima da mesa se este direito se deveria aplicar a toda a população em geral ou apenas às milícias, com o objetivo de defender o Estado.

Apesar de o indivíduo ter o direito de comprar armas para se defender, ao mesmo tempo, o Estado tem o direito de regulamentar a sua posse e até mesmo de restringi-la. O problema começa precisamente aí. O Estado, sendo soberano, não pode abolir de vez o porte de armas? Sim, mas há uma questão de força maior que ultrapassa toda esta discussão: o fator histórico-cultural.

É inegável que desde a época dos cowboys e até da própria Guerra Civil, os EUA sempre demonstraram o gosto pelas armas de fogo. Basta vermos em filmes, séries e até mesmo livros de História que os cowboys do velho oeste se encontravam sempre com uma arma à cintura. Para além disto, os EUA são considerados o “país da liberdade”. Existe sempre aquele fator de que quanto menos poder o Estado exercer na vida de cada cidadão, melhor.

Tendo em conta esta linha de pensamento, para muitos americanos, a restrição do uso de armas não é vista como uma questão de segurança, mas sim como o fim de um direito que lhes foi concedido. Então, eu pergunto-me como é possível que um país considerado tão desenvolvido e que dá tanta atenção à segurança nacional, possa ter um pensamento tão retrógrado relativamente a esta questão. Os Estados pouco ou nada fazem para evitar que situações catastróficas aconteçam, que vidas de inocentes sejam tiradas apenas porque alguém se lembrou de andar aos tiros no meio da rua só porque sim. Do próprio presidente também não se pode esperar muito, mas isso é outra história.

O mais recente caso ocorreu num bairro em Filadélfia, no passado dia 15 de agosto, em que um tiroteio provocou seis feridos. O incidente ocorreu durante uma operação anti-drogas quando os agentes da polícia foram confrontados pelo atirador. Este é apenas mais um dos inúmeros exemplos do porquê de os cidadãos americanos se encontrarem numa posição em que existe medo de frequentar sítios públicos, de terem medo de estar no local errado à hora errada. De correrem o risco de serem alvejados devido à sua etnia, religião, orientação sexual, etc, apenas porque alguém acordou de manhã a pensar que seria boa ideia cometer um crime de ódio e desatar aos tiros.
        

Posto isto, pergunto-me até que ponto “o direito à segurança pessoal”, presente na Declaração dos Direitos Humanos, se encontra acima do “direito à vida” que abrange todos os cidadãos.


Resultado de imagem para no weapons


Joana Simões                        16/08/2019

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Hora do mata-mata

A Hora do mata-mata Terminou esta semana a fase de grupos da Liga dos Campeões, uma das competições mais apaixonantes do desporto-rei. Para o futebol português foi uma fase positiva no sentido do futebol praticado, mas claramente negativa no apuramento e nos pontos conquistados. Fico muito satisfeito e dou parabéns ao FC Porto por ter sido a única equipa portuguesa que cumpriu a sua missão de passar aos oitavos de final da liga milionária, numa fase de grupos em que fez dois resultados absolutamente notáveis com o AS Mónaco e um com o Leipzig em casa e também jogos em que francamente cometeu erros e a equipa poderia ter feito mais, fora com os alemães e sobretudo nos dois confrontos com o Besiktas, mas no fim e com persistência: Objetivo cumprido. Porém há que admitir que terá de haver muita sorte para os dragões chegarem aos últimos oito emblemas a disputarem a competição, porque os possíveis adversários para a equipa de Sérgio Conceição são: Manchester United, PSG, Roma, ...

A Polícia do Politicamente Incorreto ( censura )

A polícia do politicamente correto (CENSURA) Olá a todos! É um privilégio ser o primeiro a escrever para este espaço. Agora vamos ao que verdadeiramente interessa. Esta nova modalidade que por aí anda, que pretende fazer com que todos tenhamos a mesma opinião sobre pena de incorrermos nesse horrível crime que é ter uma opinião própria. Caso alguém tenha a ousadia de se aventurar por esse caminho, é acusado de ser politicamente incorreto e o castigo para estes criminosos é um ataque acéfalo feito por todos os lados, ataques esses que vão desde: um simples “Cala-te pá” passando por insultos até culminarem, nessa coisa muito civilizada que são as ameaças de morte. Pois bem, mas quem faz parte dessa polícia são os “justice warriors” ou guerreiros da justiça. Que usam como seu quartel general/campo de batalha os espaços de comentário dessas redes sociais ou dos jornais. Estes “polícias” entendem por bem apenas quem diz aquilo que lhes parece bem usando um...

A Palavra

A Palavra Antes de começar, deixem-me dizer-vos que estou a escrever este texto não porque aconteceu algo de importante que me tenha levado a escrever este artigo, mas sim porque cada vez mais noto a forma como é que a palavra (ou neste caso a falta dela) estão a influenciar tudo e todos. Para não começar já a disparar para todos os lados, e como todos devem perceber (alguns lembrar-se) antigamente a palavra era tudo. Era o que ditava o que iria acontecer (num determinado produto, ou num negócio, ou até mesmo numa simples confissão). Não sei a razão certa para isso acontecer, mas como não havia algo mais a que as pessoas se pudessem agarrar caso alguma coisa corresse mal, as pessoas acreditavam na palavra. Hoje, isso é algo que já não existe. Os “negócios” são feitos já com dinheiro, as confissões quase que não interessam (e aqui não me refiro só às da Igreja). A palavra já não conta para nada. As promessas são outra coisa que já não interessam. Uma pessoa hoje diz uma coi...

Maria Vieira: Grunhisse ou Liberdade de Expressão?

Maria Vieira: Grunhisse ou Liberdade de Expressão? Bem, eu tentei manter-me afastado do tema Maria Vieira durante muito tempo, não por medo ou qualquer coisa que se pareça, mas sim porque não queria perder o meu tempo com quem não merecia, mas a Silly Season que atravessamos atirou-me este tema para a frente dos olhos e não há como escapar. Atenção ela não disse nada ultimamente de muito polémico apenas calhou em sorte, ou melhor, azar, pelo menos para mim, que fui obrigado a ler quilómetros de disenteria escrita que esta senhora alegadamente (já explico o uso desta palavra) publica no seu Facebook. Mas antes de irmos ao tema do texto propriamente dito, vou explicar-vos quem é Maria Vieira. Ela é uma atriz, comediante portuguesa, ficou famosa pelos seus papeis ao lado de Herman José nos programas deste, mas também pela hilariante dupla com Ana Bola. Sendo carinhosamente apelida de “Parrachita”. Tem ultimamente trabalhado em novelas brasileiras. “Quais?” perguntam vocês...

Tecnologias: o Flagelo da Humanidade

Tecnologias: o Flagelo da Humanidade  Vivemos num mundo onde as novas tecnologias controlam (quase) por completo as nossas vidas. Este texto é uma espécie de chamada de atenção para um problema, se assim lhe quiserem chamar, que está a afetar-nos a todos.  A verdade é que diariamente consumimos, e deixamo-nos ser consumidos, pelos aparelhos tecnológicos que nos rodeiam. Smartphones, tablets, computadores e afins. Parece que já não conseguimos fazer nada sem eles. Se não tivermos acesso à internet por meia hora que seja, parece que a nossa vida acaba. Deixamos de estar a par de todas as novidades, de falar com quem queremos, de aceder às redes sociais. No meio de tudo isto, parece que nos esquecemos do essencial: a comunicação não virtual, chamemos-lhe assim. A capacidade de nos desligarmos de todas as tecnologias e tomar atenção à realidade. Comunicar com os pares, observar, ouvir, sentir. Falo por mim, olho à minha volta e vejo que há escassez de tudo isso. Eu próp...