Homem-Aranha, Longe da Marvel Studios
Bem, antes de começar a falar no tema principal do meu
artigo, deixem-me dizer que todos os membros dos Politicamente Incorretos estão
atentos ao que se está a passar na Amazónia, e esperamos que os profissionais
que estão a combater o incêndio, nesta que é a maior área verde do planeta,
consigam extinguir o fogo, que já se alastra, pelo que é adiantado, há mais de
15 dias.
Agora sim, vamos ao que realmente me trouxe aqui. No passado
dia 20 de agosto, o mundo recebeu a notícia pela qual ninguém estava à espera.
O acordo para manter o Homem-Aranha no MCU (Universo Cinematográfico da Marvel,
em inglês) tinha entrado num impasse.
Mas antes de falar sobre o que se passou, vou explicar muito
rapidamente o que aconteceu no passado, para que hoje chegássemos a estes
“problemas”. Eu já fiz um artigo que explica mais ou menos todo este processo
(que podem ler aqui: Rubrica |
Universo de Heróis - O Início da Marvel Studios), mas para vos
sintetizar de novo: nos anos 90, a Marvel (empresa completa) estava a entrar
num estado de falência, e o que a empresa decidiu fazer, foi “livrar-se”
daquilo que era menos rentável na altura, ou seja, os direitos cinematográficos
dos seus personagens. As vendas que acabaram por ficar mais conhecidas, também
pelo peso dos seus personagens nas BDs, foram as do Homem-Aranha para a Sony, o
Hulk para a Universal e os X-Men e o Quarteto Fantástico para a Fox. Por
consequência, a venda incluía todos os personagens do universo desse herói. Por
exemplo, Norman Osborn, apesar de ser um vilão tantos dos Vingadores como do Homem-Aranha,
só podia ser usado no universo do Homem-Aranha (ou seja, pela Sony), porque na
altura da compra dos direitos, ele estava incluído no universo do Amigo da
Vizinhança.
A partir da compra, a Sony fez uma trilogia decente com os
filmes do Homem-Aranha de Tobey Maguire. Mas foram os erros do 3º filme que
fizeram a Sony dar um passo atrás e rebotar a franquia. Decisão estúpida. Em
2012, a Sony tentava fazer um novo universo, com Andrew Garfield, igual ao que
a Marvel já estava a fazer. Decisão estúpida novamente. O fracasso que a Sony
vinha a ter, já desde 2007, fez com que se sentassem à mesa com a Marvel/Disney,
para que tivessem um acordo de uso do personagem, e o Homem-Aranha pudesse
entrar no universo dos Vingadores. É claro que o sucesso do MCU fez a Sony
pensar muito, e foi a habilidade de negociação da Disney que permitiu que o
acordo tivesse um final feliz. O que a Disney propôs foi que o personagem teria
a sua história contada pelas mãos da Marvel Studios, e o que a Sony teria de
fazer era financiar o filme, ficando com os lucros, claro. A Disney aproveitou
o facto de ser detentora dos direitos de marketing do personagem para “dar a
volta” (à falta de um sinónimo melhor) à Sony. Recentes artigos noticiosos
dizem que a Disney, para além dos lucros do merchandising do Homem-Aranha,
recebia 5% dos lucros dos filmes solo do personagem. Ah, esqueci-me de dizer
que o acordo permitia, também, o uso do personagem noutros filmes, mas que o
orçamento era feito inteiramente pela Disney, cujos lucros também iriam todos
para a Casa do Mickey.
Muito bem, com o acordo aceite, só faltava vermos o
personagem em ação e ele estreou-se, no MCU, no filme Capitão América: Guerra Civil. A partir daí vimos o personagem em
mais 4 filmes (Homem-Aranha: Regresso a
Casa, Vingadores: Guerra Infinita,
Vingadores: Endgame e Homem-Aranha: Longe de Casa). Findado
este acordo (pois o personagem já tinha cumprido as vezes de utilização acordadas),
a Disney e a Sony aprontaram-se logo para se sentarem à mesa, e para
discutirem, novamente, a melhor maneira para as empresas usarem o personagem. E
foi aí que tudo descambou.
Pelo que foi avançado, a Disney, nesta renovação, pedia o
personagem a 50/50. Ou seja, nos futuros filmes acordados tanto a Sony como a
Disney produziriam um filme gastando 50% do orçamento cada um, e no final das
contas as duas empresas receberiam 50% dos lucros cada uma. Para além disto, a
Disney continuava a deter todos os direitos de merchandising do personagem,
gastando e lucrando só a Disney (não sei se isto estaria referido no novo
acordo, mas foi uma coisa que não foi com os direitos cinematográficos do
personagem para a Sony).
Pois bem, é claro que a Sony iria recusar. Primeiro, a Sony
já fez muito neste último acordo ao ter “deixado” a Marvel usar o Homem-Aranha
nos filmes com os Vingadores, e deixar a Disney ficar com 100% dos lucros
desses filmes (porque não se esqueçam que os direitos do Homem-Aranha nos
cinemas estão com a Sony. É ela que decide ou não o que fazer com o personagem
nas telas. No entanto existem cláusulas que se a Sony não fizer filmes por
determinado tempo os direitos voltam para a Marvel. Pelo menos acho que sim).
Com este acordo, é claro que os executivos da Sony sejam
capazes de se sentirem “enganados” com este acordo, porque para além da Disney
ter os lucros que tem, com um personagem deles incluído, agora ainda quer mais
dinheiro do que aquilo que o seu personagem já lhe está a dar? Nós fãs, e
pessoas racionais, sabemos que Endgame não se tornou o nº1 devido única e exclusivamente
ao Homem-Aranha, mas no mundo dos negócios eles são um bocado mais burros e não
veem tão bem isso. No entanto, não sei qual é a ânsia da Disney receber um
lucro maior do que 5% nos filmes solo, porque eles já estão a receber de outras
maneiras o dinheiro que receberiam pelo filme (olhem o merchandising por
exemplo).
É claro que ainda nada está decidido. Acredito que a Disney
e a Sony se juntem novamente (enquanto eu estava a escrever este artigo vi que
eles se tinham reunido de novo), e cheguem a um consenso as duas, não
esquecendo que a decisão final estará sempre nas mãos da Sony,
independentemente do resultado. Não se esqueçam que a Disney, a Marvel e a Sony
(mais as duas primeiras) ouvem os fãs, e claro que os fãs se vão desinteressar
de um filme do Homem-Aranha se não tiver mão da Marvel. A própria Sony sabe
disso. Por isso, acredito que vamos continuar com o Homem-Aranha na Marvel
(mais número, menos número), e a partir desse acordo, a Marvel poderá
finalmente gritar em alto e bom som “YEEEEEEEEEEEEEEES”. Hoje em dia, não se
esqueçam de que o fan servisse é o que move muitos interesses (olhem Game of
Thrones).
Antes de concluir, deixem-me só dizer o seguinte aos
leitores. Não boicotem a Sony em tudo o que ela faz (não se preocupem que não
estou a ser pago por eles). Digo isto principalmente pela parte da Playstation,
que eu quero manter para me afastar da depravação desta sociedade real. Acho
que com o falatório que houve nestes últimos dias, a Sony e a Disney estão atentos
a todas as movimentações, e, como já disse mais de mil vezes, eles vão chegar a
acordo (acho que me estou a repetir para ver se realmente acredito nisto). Por
isso tenham atenção que o não acordo ainda não é definitivo. Muita coisa ainda
pode acontecer.
Concluindo, e tendo uma postura imparcial, não posso
culpabilizar nenhuma das empresas por esta falha nos direitos do Homem-Aranha.
Digo isto porque não se podem esquecer que é o dinheiro que faz mexer
Hollywood, e é claro que todas as empresas querem sempre lucrar mais e mais.
Agora, se tivesse de atribuir as culpas a alguém, pelo meu artigo (não sei se
ficou claro) a culpa é da Disney, de se tentar apropriar de uma propriedade que
não é dela. Espero que a Disney baixe o valor pedido, porque no final de
contas, são os fãs que movem este tipo de blockbusters, e a Disney não é
empresa de querer perder. Mas no final de contas, sem este acordo, não sei quem
vai acabar por perder mais.
André Ferreira 22/08/2019
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