Desgraça-Con Portugal
E foi na edição de 2019, que o verniz da organização da
Comic-Con Portugal começou a estalar. Não, não houve sessões de manicure (pelo
menos eu acho que não), mas antes tivesse havido. Pelo menos não teríamos tido
tanta confusão no Passeio Marítimo de Algés.
Indo direto ao assunto, o dia de ontem, dia 15 de setembro, ficou
marcado pela presença da grande estrela em ascensão, Millie Bobby Brown, no
Golden Theatre da Comic-Con Portugal. Até aqui, tudo bem. A vinda de uma
estrela como Millie a um evento dedicado à cultura-pop (ainda para mais em
Portugal), traz sempre algo mais, para que o futuro de um evento deste género,
ou outros, se possam realizar no nosso país. Não é que eu esteja encarceradamente
à procura de trazer ainda mais turismo ao nosso país, mas que traz mais importância
e nome lá fora, isso traz. Para não falar na facilidade que nós, portugueses,
temos em aceder a este tipo de personalidades que de outra forma não era
possível (quer dizer, ser possível é, tem é de se pagar mais).
Mas pronto, o pior estava para chegar na altura H, como em
muitas coisas que Portugal faz. No momento da entrada para o recinto, que era
às 10h, uma enchente de pessoas correu para a bancada central, onde ainda se
vendiam bilhetes para fotos e autógrafos com a atriz. Os preços, pelas
informações que recolhi online, rondavam os 30€, 40€ (sim, como o grande Nuno
Markl explicou e muito bem num post na sua conta de Instagram, isto é
recorrente nos artistas que têm de se deslocar ao estrangeiro, pois este tipo
de coisas que parecem simples, podem vir a tornar-se como algo colecionável. E
pelo que Markl deu a entender, os preços até foram simpáticos). Mas isto até é
aceitável, porque uma figura pública está a dar algo que é só seu ao público
(não sejamos hipócritas, porque uma assinatura pessoal é algo único, independentemente
do número de pessoas que a tenham ou não. E cada um vende as suas coisas da
maneira que quer. Já vi idiotas a vender coisas inúteis por mais, mas pronto,
não estamos aqui para falar disso). Agora o que mais me assusta é a moda da
maluqueira do Black Friday, que em Portugal se está a alastrar para mais coisas.
A maluqueira de que falo é a existência de uma enchente de pessoas atrás de uma
coisa que só está à venda ali e naquele preço e tenho medo que um dia no meio
da rua isso me possa acontecer a mim (como se tivesse apanhado uma constipação
ou qualquer coisa parecida). Ok, é uma coisa única estar ao pé de uma estrela
de Hollywood, mas acalmem-se lá.
Continuando, e peço desculpa estar a divagar, a fila para se
entrar na tenda começou a formar-se bastante cedo, e já li relatos de pessoas
que estavam nos lugares dianteiros para entrarem na tenda, e sem que essas
pessoas pudessem fazer algo, iam sendo ultrapassadas por outras, que ocupavam
os seus lugares. Outro fator que me espantou, foi que na mesma tenda, uma hora
antes de Millie, tinha estado Benedict Wong, o Wong do MCU, e as pessoas que
estavam lá a assistir não saíram da zona. A terceira coisa que me surpreendeu,
também, foi a lotação… de 2000 pessoas.
Vamos por pontos, em relação às filas, penso que deveria ter
havido melhor gestão e supervisão por parte da organização, porque não nos
podemos esquecer que neste tipo de eventos e com este tipo de figuras públicas
quem irá estar nas filas são crianças e jovens. Ora, as filas são na rua, e por
azar (usando a ironia) nesse dia estava sol. A sério… Mas não é só por isso.
Existe uma coisa chamada de regras, e elas são para cumprir. Se estamos num local
onde existem filas e ela já está grandinha, eh pá só temos de esperar. Mas enfim,
deveria ter havido uma barreira, sei lá, para ter estas pessoas pela ordem que
elas chegaram. Não é porque um atrasado chegou meia hora depois de mim que eu
terei de o deixar passar na fila só porque sim. Vamos ser decentes, ok?
A este ponto, junto o erro crasso da lotação (que se calhar
deveria ter falado em primeiro lugar). Como é que é possível que, num evento
onde estaria presente uma atriz de Hollywood, e ainda por cima, de renome mundial,
um evento só tenha 2000 lugares disponíveis? Eu ainda demorei um tempo antes de
continuar a escrever porque tentei arranjar uma justificação para ajudar a
organização, mas não consegui. Porque foi com a Millie, mas imaginem que vinha
cá uma Daisy Ridley, ou uma Scarlett Johansson, ou até mesmo um Robert Downey Jr
ou um Chris Evans, achariam mesmo que estes mesmos 2000 lugares iriam chegar para
acolher tantos fãs destes atores? Espaço não faltou. Se o problema fosse a
tenda, teriam de ter analisado isso antes. Por isso é que não é só uma pessoa
que trata destes “pequenos” detalhes.
Quanto ao terceiro fator referido, não achei decente que as
pessoas que estiveram dentro da tenda a ver Benedict Wong, não tivessem saído e
ido para a fila como as outras pessoas, e esperar pela sua vez (que não preciso
de falar mais neste ponto) para entrar. Isto nas outras Comic-Cons,
independentemente de serem grandes ou pequenas, não aconteceria. O que se
sucede no final de um painel é o esvaziar do recinto para que quem está nas
filas e pagou para lá estar, possa usufruir de tudo aquilo que tinha de intenção
de ir. Muitos dizem que foi por culpa da segurança que não deixou sair. Pudera.
As pessoas que estavam cá fora não ajudavam, e os problemas que eu enunciei
atrás, mais o desespero e impaciência das pessoas fora da tenda levou a que a
segurança (que pelo que li não era muita) tivesse de tomar um último recurso em
prol da mesma segurança de todos.
Quanto ao que Millie Bobby Brown disse na conferência não sei. Infelizmente não estive lá para ver nem para ouvir, por isso não irei abordar o que foi feito e dito lá. Mas gostava de ter sido o Nuno Markl ontem, ai isso gostava.
Pois bem, a Comic-Con perdeu muito, e como a Joana Simões
diz e muito bem, desde o momento que saiu do norte do país. Esta ânsia de levar
tudo o que se faz de bom, e possa trazer turismo para Portugal, ser levada para
a capital tem de acabar. Há mais Portugal para além de Lisboa. E espero muito
sinceramente que a organização tenha aprendido com estes erros deste ano e que
nos próximos isto não volte a acontecer. Não digo que a organização não erre
nunca, mas a errar, que erre agora no início do evento (atenção, também, é a sexta
edição). Que a Comic-Con faça mais sucesso de ano para ano, a partir de agora,
e que possam ir rodando o local do evento, para que mais pessoas usufruam deste
tipo de cultura, que tanto faz falta em Portugal.
André Ferreira 16/09/2019
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